QUALQUER SEMELHANÇA NÃO É MERA COINCIDÊNCIA

DNA da corrupção
Não foi honestidade. Se prevenido, com mais calma e vagar, teria pensado num meio de aproveitar a coisa. Mas apanhado de repente, não deu por si nem por coisa nenhuma quando, conferindo faturas do Loide, notou que duas delas não concordavam em seus dizeres e cifras.

Uma, a de número 11.876/BYX-16, detalhava o embarque, para Salvador, de dois milhões de tábuas de pinho do Paraná. No entanto a duplicata de mesmo número não tinha nada, a não ser um bilhete à mão: "Cardoso –só com o dinheiro dessas tábuas poderíamos fazer cinco cidades iguais à calculada. Bote no orçamento o preço das tábuas mas mande embarcar apenas 300. Dá para se construir o barraco com a tabuleta: 'Obra do Governo'. Cuidado com as faturas do Loide. São umas bestas! –Alberto".

Não era à toa que os prevaricadores se alertavam contra as bestas do Loide! Marcelino fremiu. Um escândalo à vista! Sem saber o que fazia ou por que, ligou para o número impresso na guia original. À voz que o atendeu, voz subserviente de algum contínuo, ordenou que desejava falar com –e olhou o nome do diretor da companhia impresso na guia– Alberto Mansores.

Logo o atendeu o próprio Alberto Mansores. Não é comum um homem importante atender a qualquer telefonema. Mas tão logo Marcelino se identificara –"é da parte de Marcelino Caldas, do faturamento do Loide" –ou porque o homem fosse educado para com todos, ou porque tivesse culpa na consciência, subitamente despertada com aquele "faturamento do Loide", o fato é que o atendeu.

– Algum embaraço, doutor Marcelino?

– São duas faturas que não batem. Numa tem um recado para um tal Cardoso...

– Traga imediatamente essas faturas! Quero todas, todos os papéis, traga o Loide inteiro! 


Carlos Heitor Cony


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